O que as pessoas falam sobre si mesmas......
07 de Agosto de 2015, por Dom Sergio de Deus Borges
No exercício da missão nas comunidades temos a alegria de conviver e dialogar com pessoas de todas as idades, com condições econômicas diferentes e com diferenciado acesso à cultura. Além disso, existe um modo próprio de cada uma viver e se relacionar com a Comunidade. Porém, as pessoas, em sua maioria, têm algo em comum quando falam de si mesmas: falam de seu trabalho e de suas atividades, poucas falam de sua missão, de sua vocação.
Até parece que a identidade da pessoa está relacionada essencialmente com o que ela faz. Esta mentalidade está profundamente arraigada na cultura desde há muito tempo. Nos Santos Evangelhos, quando Jesus retorna à sua terra, O identificam com a atividade exercida por São José: o filho do Carpinteiro. Do mesmo modo os Apóstolos, em sua maioria, inicialmente foram identificados com a atividade que exerciam: uns, pescadores; outro, cobrador de imposto, etc.
Identificar uma pessoa somente pela atividade exercida empobrece a nossa compreensão da mesma. Os interlocutores de Jesus ao identifica-Lo com a profissão de São José perderam uma grande oportunidade de conhecer o Senhor Jesus e a missão que Lhe foi confiada pelo Pai. Do mesmo modo, quando pensamos em nós mesmos somente a partir do que fazemos, também empobrecemos porque perdemos a capacidade de nos conhecer melhor, não conheceremos o pensamento de Deus sobre cada um de nós, e perdemos a consciência do chamado e a perda da consciência vocacional desvirtua a missão.
Identificar a pessoa pela missão a enobrece e nos enriquece. Depois do chamado e da convivência com o Senhor Jesus, num longo e árduo caminho, os Apóstolos foram descobrindo que Deus contava com Eles, Deus os chamava, em Cristo, à sua verdadeira missão, de pescadores de peixes a pescadores de homens ? Apóstolos: “chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos’ (Lc 6,13).
Esta descoberta foi um divisor de águas na vida dos doze: Eles se tornaram, por graça, Apóstolos de Jesus. É bonito ler os Atos dos Apóstolos e outros escritos e observar como os Apóstolos falam de si mesmos a partir da missão, que lhes deu a verdadeira identidade: Pedro, apóstolo de Jesus Cristo (1Pd 1,1); Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus (2Tm 1,1).
Como é bonito ouvir as pessoas que têm consciência da missão e falam de sua vocação ao matrimônio, falam de sua vocação ao sacerdócio, outras falam de sua vocação à vida consagrada, outras ainda de sua vocação política, educacional, etc. Como é bonito alguém dizer ‘eu sou um educador’, em vez de dizer ‘eu leciono’; como é bonito ouvir a pessoa dizer ‘eu sou um discípulo missionário’, em vez de dizer ‘ pois é, eu ajudo na Pastoral......’.
Vamos aproveitar o mês de agosto e falar menos do que fazemos e começar um bonito exercício de falar sobre nossa vocação, porque somente a consciência do chamado fará renascer em todos nós o encanto com a missão que o Senhor Jesus nos confiou.
Dom Sergio de Deus Borges
Bispo Auxiliar de São Paulo
Vigário Episcopal para a Região Santana