Meditação Novembro - O homem moderno
07 de Novembro de 2015, por Pe. Marcel
O poder do homem, tanto na tecnologia moderna como na ciência, atinge hoje uma altura quase vertiginosa. Tornamo-nos grandes no “fazer”, mais não se pode dizer a mesma coisa do “ser”, na arte da existência. Sabemos o que podemos “fazer” com as coisas e as pessoas, mas o que “são” as coisas e o que “é” o homem, eis em que não se fala mais. Perdemos a arte de “saber viver”, estamos na situação daquele que sofreu uma múltipla fratura: devemos reaprender a “caminhar na fé”, recuperar, aos poucos, o uso de nossas forças interiores.
“A terra de um rico produziu muito. Ele então, refletia: ‘Que hei de fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’ (Lc 12,17)”. O homem rico desta parábola é, sem duvida, inteligente; conhece seus negócios. Ele sabe calcular as possibilidades do mercado; leva em conta o fator de risco na natureza e no comportamento humano. Suas reflexões têm êxito, o sucesso lhe dá razão. Ampliando um pouco a parábola, podemos dizer que este homem é, sem duvida, inteligente demais para ser ateu. Mas ele vive como agnóstico (só admite os conhecimentos adquiridos pela ração): como se Deus não existisse. Uma pessoa assim não se dedica as coisas indeterminadas, como a existência de Deus. Esse homem conhece somente o que é seguro e calculável. Eis por que a finalidade de sua vida é também muito terrestre, muito palpável: a riqueza e o bem-estar.
De repente, acontece o que não esperava: Deus lhe fala, se entretém com ele sobre uma possibilidade que tinha excluído de seus cálculos, por julgá-la insegura e intangível demais ? o quê acontecerá de sua alma quando aparecer nua diante de Deus, longe da fortuna e do sucesso? “Nesta mesma noite ser-te-á reclamada a alma (Lc 12,20)”. O homem que todo mundo achava inteligente e coroado de sucesso é, aos olhos de Deus, um insensato: Deus lhe diz “Insensato”. Diante da realidade, esse homem agora aparece curiosamente estúpido e míope nas suas avaliações, porque em todas as suas combinações ele esqueceu o essencial: que a sua alma não aspirava somente à fortuna e ao prazer, mas que ela se reencontraria diante de Deus. Esse insensato inteligente oferece uma imagem muito precisa do comportamento do homem de hoje. Nossas capacidades técnicas e econômicas atingiram um grau até agora inimaginável. Muitos homens e mulheres pensam que estamos iniciando uma civilização da humanidade na qual todo mundo poderá comer, beber e se divertir a vontade (cf. Mt 24,38). O homem da parábola é insensato porque esqueceu a sua alma e a sua sede inextinguível, seu desejo de Deus. Somos peregrinos aqui, não podemos nos esquecer de que nossa morada definitiva não é no tempo presente, por isso: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz! Não endureçais vossos corações” (Sl 95,7-8). A finalidade de nossa caminhada nesta terra é de voltar nas mãos daquele que nos criou; escutar o grito da nossa alma e redescobrir na sua profundidade o mistério de Deus.
(Tirado em parte do livro “Auf Christus Schauen”, Joseph Razinger)