Meditação Fevereiro - Ilusões fundamentais

14 de Fevereiro de 2016, por Padre Marcel


Quais são algumas ilusões fundamentais? Talvez a primeira seja o mito de nossa centralidade, o mito que afirma ser a tarefa mais urgente do universo que as minhas necessidades sejam atendidas. É quase impossível sair desta ilusão que vai fortalecendo-se incrivelmente dia após dia. De onde vem a força desta ilusão? De nossa falta de experiência radical de fé. Vagamente damos conta de que nos falta proteção. Qualquer coisa poderia acontecer em qualquer momento. Quem nos vigia, quem nos protege? Deus? Ele fica longe. A ilusão tenta resolver o medo da nossa incerteza.

A segunda ilusão é pensar que os outros não sofrem. Agora, é claro que eles sofrem, mas a ilusão afirma: Não como eu. Qual é a raiz desta ilusão? Os orientais diriam que ainda não aceitamos a primeira verdade nobre: A vida é sofrimento. Evidentemente esta verdade, aceita no fundo de nosso ser, acabaria com as nossas tentativas constantes de fazer da nossa vida uma história de sucesso.

A terceira é a ilusão do “coração bom”. Aquele que está iludido por esta de coração bom diz a si mesmo: “Dentro de mim bate um coração afável e amável. Este coração é a boa arvore evangélica que infalivelmente produz bons frutos. Por causa da saúde básica deste meu coração, todos meus atos vão ser agradáveis, benéficos, charmosos. Posso confiar neste alicerce moral dentro de mim, sem ter que preocupar-me com os meus atos e palavras. Do bom sai o bom.”

Tais pessoas são perigosas para si mesmas e para seus colegas. Pintam tudo o que dizem e fazem com cores pastéis, e não exercem nenhuma vigilância sobre si mesmas. Acabam criando muita dor para seus próximos, sem reconhecer o fato nem assumir responsabilidade por eles.

Nosso coração é uma sacola que contem de tudo cujos movimentos íntimos oscilam entre entrega de si e crueldade só por curiosidade. É precisamente por causa desta “duplicidade de coração que Deus nos deu uma consciência, uma revelação, uma lei, para pudermos ler os movimentos de nosso coração, fazer o bem e evitar o mal.

Se não vigiarmos nossos corações, acontecerá um refluxo. Os atos maldosos, as palavras cínicas, os pensamentos agressivos que produzimos vão transformar nosso coração em sua imagem. Um coração basicamente inocente, mas sem vigilância que, sem fazer uma triagem, permite nascer atos, palavras e pensamentos de todo tipo que o corrompe.

Neste caso, o resultado é: um homem ou uma mulher magoando e prejudicando à direita e à esquerda, que se lisonjeia e se autoproclama encantador. Frequentemente esta ilusão se vive através do humor. Alguém que se imagina um cara fabuloso, mas cujas piadas, brincadeiras, comentários têm um pouco daquele veneno de uma víbora sobre o qual o salmista fala. “afiam a língua como serpentes, sob seus lábios há veneno de víbora” (Sl 140, 4), “Sua boca é mais lisa do que o creme, mas no seu coração está a guerra; são suaves como óleo suas palavras, porém são espadas fora da bainha” (Sl 55, 22).

(Inspirado por Bernardo Bonowitz, ocso, Apto a ganhar as almas)

Marcado como Mensagem do Pároco.

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