Palavra do Padre
14 de Abril de 2017, por Palavra do Padre
O Mistério da Ressurreição
Jesus quando apareceu aos discípulos disse: ?A paz esteja convosco?, A paz é a tranquilidade da ordem, diz Santo Agostinho, ou seja, uma ordem permanentemente tranquila. E São Tomás demonstra ser a paz efeito próprio e específico da caridade, pois todo aquele que está em união com Deus vive na perfeita ordem, ao harmonizar todas as suas potências, sentidos à sua causa eficiente e final. Essa união faz brotar na alma, que a possui, um profundo repouso interior e nem sequer os inimigos externos a perturbam, porque nada lhe interessa a não ser Deus: ?Se Deus está conosco, quem será contra nós?? (Rm 8, 31). Ao amarmos a Deus e ao próximo, a alegria e o consolo penetram em nosso interior. Desse amor procede a paz. Jesus, desejando-lhes a paz, oferecia-lhes um dos principais frutos desse amor infinito que é o Espírito Santo. Depois, come com eles, comenta as Escrituras como qualquer rabino. Sua aparência é como a de uma pessoa qualquer: Maria Madalena pensa que é o jardineiro, os peregrinos de Emaús o confundem por uma peregrino qualquer. Por que isso? Porque Deus veio salvar sua criatura naquilo que ela tem de mais humano; a vida cotidiana é sua obra-prima; muitas pessoas querem sair da sua história, querem uma vida melhor ou, pelo menos, diferente, Jesus nos faz entrar na nossa história cotidiana para nos salvar. Ninguém fez isso antes dele.
O que é comer para que Jesus o faça após a sua ressurreição? Comer é transformar algo em nós mesmo, por uma operação banal e no entanto, quase milagrosa. Quando como um pedaço de carne, a carne se metamorfoseia em mim, e isso, ao mesmo tempo, indica a nossa dependência ecológica respeito aos alimentos, e assim a todo o cosmos, pois para receber o alimento é preciso do sol, da chuva, das estações, das abelhas, etc.. Quando convidamos alguém a mesa todos somos iguais. Os jovens, os idosos, os inteligentes e os simples, homens e mulheres, todos vem e usam o sal apesar das diferenças. Jesus come o peixe assado para transfigurá-lo, ?a criação foi submetida à vaidade - não por seu querer, mas por vontade daquele que a submeteu - na esperança de ela também ser libertada da escravidão da corrupção para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus. Pois sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores de parto até o presente? (Rm 8,20-22).
Por que Tomé duvida, depois da ressurreição, do corpo de Cristo? Porque todo ser humano tem o espírito cartesiano; os animais não duvidam. René Descartes demostra muito bem que se podemos duvidar de tudo e mesmo de nós mesmo, é que temos em nós a ideia do infinito. É por isso que, o que nos salta aos olhos, sendo algo de limitado, não é Deus ainda. ?Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça? (Jo 7,24). L?existência de Deus é de qualquer maneira a condição da possibilidade da dúvida. Deus infinito, apenas se deixou encontrar nos reenvia ao finito, a sua criatura bem-amada. Para crer Tomé faz o pedido, não de ver, mas de pôr os dedos nas feridas do ressuscitado. Ele exige, de uma certa maneira, um milagre ao contrario. Num milagre normal as feridas desaparecem, com o ressuscitado as feridas permaneçam eternamente. E é isso que Tomé espera, ele rejeita uma glória que não leva a serio a tragédia humana, como se a sofrimento não existisse.
O paraíso não é deste mundo. O mistério da ressurreição não pretende abolir o sofrimento, mas cumpri-lo e transfigurá-lo em redenção, descobrindo o dom nas coisas ordinárias e mudando a perda em oferta.